ATA DA TRIGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 24-8-2000.

 


Aos vinte e quatro dias do mês de agosto do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e seis minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Bruno Mendonça Costa, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 103/00 (Processo nº 1562/00), de autoria do Vereador Juarez Pinheiro. Compuseram a MESA: o Vereador Adeli Sell, presidindo os trabalhos; a Senhora Circe Petersen, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Jorge Lima Hetzel, Diretor da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre; o Senhor Régis Cruz, Diretor-Geral do Hospital Psiquiátrico São Pedro; o Senhor Bruno Mendonça Costa, Homenageado; o Vereador Juarez Pinheiro, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro, registrou a presença do Vereador João Motta, representante do Senhor Tarso Genro, ex-Prefeito Municipal de Porto Alegre e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Juarez Pinheiro, em nome das Bancadas do PT, PTB, PDT, PPB, PMDB, PSB e PFL, discorreu sobre aspectos relativos à vida pessoal e às atividades profissionais desenvolvidas pelo Senhor Bruno Mendonça Costa, destacando a relevância da atuação do Homenageado no ramo da psiquiatria e fazendo um histórico sobre a militância social, estudantil e partidária exercida por Sua Senhoria. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença do Capitão Victor França Ruas, representante do Comando-Geral da Brigada Militar, convidando Sua Senhoria a integrar a Mesa dos trabalhos. Também, o Senhor Presidente informou que a Senhora Circe Petersen teria que se ausentar da presente solenidade. Após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, salientou a justeza da concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Bruno Mendonça Costa, referindo-se à competência e dedicação sempre demonstradas por Sua Senhoria no exercício de suas atividades como psiquiatra e professor da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre. Na oportunidade, foram registradas as presenças, como extensão da Mesa, dos Senhores Alexandre Costa, Rosângela Costa, Silvana Rosseto e Ana Carolina Rossetto Costa, respectivamente filho, filha, nora e neta do Homenageado, bem como de familiares e colegas do Senhor Brumo Mendonça Costa. A seguir, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, saudou o Senhor Bruno Mendonça Costa pelo recebimento do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, afirmando que a honraria hoje concedida ao Homenageado representa o reconhecimento da Cidade de Porto Alegre, através de sua Câmara Municipal, aos relevantes serviços prestados por Sua Senhoria à comunidade. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Juarez Pinheiro para proceder à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Bruno Mendonça Costa e, após, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Em prosseguimento, o Senhor Presidente informou que, após o encerramento da presente solenidade, seria oferecido um coquetel aos presentes, na Avenida Cultural Clébio Sória. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e vinte e oito minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Adeli Sell e secretariados pelo Vereador Juarez Pinheiro, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Juarez Pinheiro, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Estão abertos os trabalhos desta Sessão Solene, destinada a homenagear o Dr. Bruno Mendonça Costa.

Convidamos para compor a Mesa o Dr. Bruno Mendonça Costa; a Dr.ª Circe Petersen, representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Dr. Jorge Lima Hetzel, Diretor da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre; e o Dr. Régis Cruz, Diretor-Geral do Hospital São Pedro.

Convidamos todos os presentes para, em pé, cantarmos o Hino Nacional.

 

 (Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Registro, também, a presença dos Vereadores Juarez Pinheiro, Lauro Hagemann, e do Presidente da Casa Ver. João Motta que, nesta Sessão, representa o Dr. Tarso Genro, ex-Prefeito da nossa Cidade.

O Ver. Juarez Pinheiro está com a palavra, falará como proponente e pela sua Bancada, PT, e também em nome das Bancadas do PTB, do PDT, do PPB, do PMDB, do PSB e do PFL.

 

O SR. JUAREZ PINHEIRO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Peço vênia para cumprimentar também aqui os familiares do Dr. Bruno Costa através de sua esposa, através de seus filhos aqui presentes, Alexandre e Rosângela. E peço vênia também às pessoas que me escutam, pois por recomendação do próprio Dr. Bruno Costa eu não deveria estar aqui. Só estou aqui, realmente, porque é uma homenagem ao Dr. Bruno, já que a minha pressão é de aproximadamente vinte por doze, por outros motivos que não esta cerimônia. Peço vênia em função da minha dificuldade em me expressar, porque sairei daqui e irei para casa. Eu não poderia deixar de estar aqui hoje, mas é hoje um dos momentos mais marcantes do meu mandato, e a emoção toma conta de mim.

Conheço o Dr. Bruno Costa há aproximadamente onze anos, e desde aí, nesse contato pessoal, direto, seja na militância partidária, seja no movimento social, tive conhecimento e pude conviver com um dos seres humanos mais inteiros e mais íntegros. Eu digo muito porque o Dr. Bruno é uma pedra, uma rocha, é um cidadão por inteiro.

Porto Alegre, hoje, resgata uma dívida com um dos seus filhos adotivos mais respeitáveis. O militante social, o médico, o dirigente partidário, o dirigente estudantil, o professor universitário Bruno Costa faz jus, de sobejo, à homenagem que hoje o Município lhe presta.

O Dr. Bruno Costa é uma daquelas pessoas que, na expressão de Bertolt Brecht, que todos nós conhecemos, é desnecessário que citemos tudo, na amplitude, o que ele diz, é um daqueles que é dos imprescindíveis. O Dr. Bruno Costa é uma daquelas pessoas singulares, daquelas pessoas mágicas, que nos deixam claro que não há o fim da história, que a dialética existe e de que a globalização nada mais é do que estratégia dos países ricos para se apropriarem do patrimônio, dos recursos dos países pobres.

O Dr. Bruno Costa é um exemplo de cidadão dedicado ao coletivo, é um exemplo de cidadão que se organiza em todos os locais em que milita, desde o tempo em foi diretor da Casa do Estudante, mesmo antes, quando militava em nível de segundo grau, como dirigente estudantil na Cidade de Cachoeira. Depois, quando avançou e a Nação passou por um momento histórico, de gravidade ímpar, que marcou a todos os brasileiros, seja na legalidade, em 1961, seja no golpe militar, em 1964, o Dr. Bruno sempre esteve presente.

Portanto, hoje, Porto Alegre resgata uma dívida com uma pessoa que é um orgulho para todos os porto-alegrenses que com ele convivem no seu dia-a-dia.

O Dr. Bruno comigo conviveu durante algum tempo, como diretor do Grupo Hospitalar Conceição. Neste momento, aqui, quero prestar uma homenagem ao Dr. Grossmann, que também é um cidadão Honorário desta Cidade, que conosco conviveu. Ali eu pude, de manhã, de tarde e de noite, convivendo com o Dr. Bruno Costa, saber da qualidade e da profundidade desse cidadão.

Quero aqui também citar algumas pessoas que são da vida do Dr. Bruno. Eu vejo aqui a Cloé, a Frida, o professor Élgio Trindade, e tantas outras pessoas que conhecem a história e a trajetória desse homem, cuja coluna vertebral nunca se vergou.

Portanto, por mais que eu estivesse num dia sem problemas de pressão arterial, por mais que eu tivesse alguma inspiração, por mais que eu fosse um orador, jamais teria condições de expressar tudo o que nós todos queremos dizer, a forma como queremos abraçar hoje o Dr. Bruno Costa.

Eu me permito, para que se tenha uma amplitude do que é o Bruno Costa, ler algumas coisas da sua trajetória.

“O Dr. Bruno tem sessenta e três anos, é natural de Cachoeira do Sul. Formou-se em 1963 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especializou-se em Psiquiatria. É Mestre em Farmacologia pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre. É Mestre em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituição na qual deverá concluir, em breve, o curso de doutorado em Psiquiatria no próximo ano.

É professor assistente da disciplina de Psiquiatria na Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.

Nasceu em Cachoeira do Sul, onde o pai exercia a atividade de marceneiro e de músico profissional - tocava clarinete -, e a mãe exercia a atividade de servente de limpeza da Escola Normal João Neves da Fontoura.

E a Ely Marsiniac, irmã do Bruno, veio de Cachoeira do Sul, lembra bem desse tempo.

Era tradicional, por ocasião da formatura de formandos da Faculdade Católica de Medicina, que a Associação de turma publicasse num pequeno livro a biografia de cada um dos formandos. O texto era elaborado por outro colega, com base em dados coletados sobre o biografado. Assim foi registrada a biografia de Bruno Mendonça Costa, segundo um colega de turma:

 

‘Olhou o mundo e viu o campo. / Viu o campo mas não viu divisa. / E conheceu o latifúndio. / Olhou o campo e enxergou o dono, que era rico e não trabalhava. / Olhou o campo e viu o camponês, que não tinha terra, que não colhia, ou melhor, que colhia, mas não levava, mas não comia.

 

E viu os filhos do dono e viu os filhos do camponês. / E viu a alegria e a tristeza. / E viu a saúde e viu a doença. / E viu a vida e viu a morte. / E viu que os donos da terra eram poucos. / E viu que os camponeses eram muitos. / E viu que a alegria de poucos era a tristeza de muitos. / E que os doentes eram muitos e que os sadios eram poucos. / E não compreendeu.

 

Mas cresceu. / Enquanto cresceu perguntou / E, porque perguntou, aprendeu, / E descobriu a injustiça. / E foi clamar justiça. / Mas onde estava a justiça? / No campo ela não estava. Estava, então, na cidade. / Onde havia barulho. / Havia, edifícios, cinemas e cartazes coloridos.

 

Chegou e viu a cidade. / E conheceu o edifício e o cinema. / E os cartazes coloridos. / Mas conheceu a fábrica e a máquina. / E conheceu o operário, e conheceu o patrão. / E outra vez a miséria. / E outra vez a opulência. / E conheceu as casas onde morava a cultura. / E viu que tinham portas estreitas, e poucos estavam dentro. / E muitos estavam fora. / E em toda parte onde olhava, na sua busca de justiça, encontrava o mesmo quadro que conhecera no campo: muitos os que sofriam; eram poucos os que cantavam. / Eram muitos a produzir e bem poucos a acumular. / Mas onde estava a justiça? / Encontrou a resposta e escolheu a bandeira; descobriu seu papel como ser social e aceitou objetivamente as conseqüências de suas idéias. / E participou da luta./ E tornou-se líder. / E tornou-se história.

 

Escolheu Medicina. Poderia ter sido outro ramo do conhecimento; a sua luta transcende a sua profissão. E sua realização científica será apenas complemento da sua realização social. / Antes de ser médico, ele tornou-se Bruno Costa. / Um ser útil. Conscientemente útil. / Sem vaidade.’

 

Eunice, perdoe-me, o meu momento de saúde não me permitiu que eu te citasse aqui, companheira do Bruno Costa.

Terminou o curso secundário em Caxias do Sul, fazendo o que, na época, era denominado Curso Científico. Quando cursava o terceiro ano, passou a fazer política estudantil com muito entusiasmo, compondo a direção da União Cachoeirense de Estudantes. Tinha dezessete anos.

Com dezenove anos, logo após cumprir sua obrigação militar, mudou-se para a Capital, ingressando na Faculdade de Medicina e formando-se com vinte e seis anos. Um amigo o indicou para morar na Casa do Estudante, na Rua Riachuelo, 1355, instituição que abrigava somente estudantes universitários reconhecidamente pobres e sem recursos financeiros. Um conselho formado por eleição entre os moradores da casa escolhiam os futuros moradores entre os candidatos através de rigorosa investigação sobre a vida social, econômico-financeira de cada um deles. Temos hoje aqui a presença do Ver. Lauro Hagemann que acompanhou toda essa história. Sua admissão como morador na Casa do Estudante foi um fato decisivo na sua vida. Graças a ela, conseguiu permanecer na Universidade, a qual, ainda que pública e gratuita, exigia do aluno um mínimo de nível financeiro. Isso foi conseguido por um providencial emprego na Empresa Jornalística Caldas Júnior, Correio do Povo, que admitia universitários para essa atividade que era desenvolvida das vinte às duas horas da manhã. Dois anos depois, através de concurso público, foi admitido como Oficial Datilógrafo, indo trabalhar no Hospital Psiquiátrico São Pedro. Aí já estava se iniciando o seu futuro profissional, inclusive sua especialidade. O convívio com universitários do emprego na Casa do Estudante e na Faculdade forneceu-lhe um firme alicerce sobre suas atuações a partir do primeiro ano de seu Curso, descobrindo um mundo que desconhecia na sua tranqüila e querida Cachoeira.

Apesar de sua dedicação aos estudos formais passou a interessar-se de modo mais profundo pelas Instituições que conheceu, pela importância da Universidade e pela política como atividade transformadora da Sociedade. Passou então a atuar mais intensamente nos órgãos de representação estudantil, universitária, culminando por ser Presidente da Casa do Estudante em 1960 e Presidente da Federação dos Estudantes da Universidade do Rio Grande do Sul em 1961. Estão aqui muitos amigos do Bruno, da FEURGS, e sei que esses momentos, relembrando aquele marco histórico dos estudantes universitários desta Cidade, tocam o coração, e nós aqui que não convivemos com esse tempo, mas que dele também tivemos conhecimento e contato pelo Bruno, pela Cloé, pela Frida, pelo Petracco, e tantos outros também, nos orgulhamos desses brasileiros, que com tanta garra, enfrentaram aquele momento difícil da história desse País.

A Casa do Estudante era então, uma instituição singular importante para um grande número de profissionais que passaram por ela e aqui se projetaram na sociedade Rio Grandense. Modificou-se muito depois em 1964, após ter sofrido intervenção, quando foram expulsos vinte estudantes que fizeram parte da Gestão de Bruno Costa, sendo imposta, então, uma direção dócil aos mandatários da época. Os colegas mais velhos procuravam mostrar aos recém-chegados como ela funcionava, através de uma administração formada exclusivamente por moradores, cujos membros da Diretoria e do Conselho Deliberativo eram escolhidos entre os melhores e por eleição Era orgulho e uma honra pertencer aos seus órgãos de direção.

Eram tempos muito agitados e a participação política dos estudantes era muito intensa. Em 1961 houve um movimento pela Legalidade, liderado por Brizola, que conseguiu defender a posse de João Goulart. A posse foi assegurada mas os militares não haviam desistido de seus objetivos e o processo culminou com o golpe militar de 1964, que o depôs, iniciando-se uma longa ditadura que estendeu-se até 1979.

Formado em 1963, Bruno Costa, teve intensa participação política nesta época. Para não ser preso, em 1964, precisou manter-se escondido por quarenta dias, no apartamento de um casal de amigos. Desapareceu de Porto Alegre, indo clinicar em Constantina, localidade onde, dois anos depois de sua chegada, ele e mais cinco companheiros foram presos de madrugada, retirados à força de suas residências, ainda vestidos com roupas de dormir, colocados na carroceria de um caminhão aberto, cercado por vinte homens armados de fuzis e metralhadoras, sendo humilhantemente exibidos pela manhã perante os olhos de uma população atônita e curiosa, enquanto, vagarosamente, o veículo se deslocava por várias ruas da Cidade. Por denúncia de subversão e acusação de que liderava um levante armado na região, foi preso por doze dias num quartel, em Passo Fundo. Impossibilitado de permanecer na localidade, pela desmoralização pública que sofrera, transferiu-se para Ernestina, depois para Campinas das Missões e, finalmente, para Porto Alegre, em 1966, uma vez que as perseguições políticas haviam diminuído. Fez concurso público e passou a trabalhar no Hospital Psiquiátrico São Pedro e no INPS.

Com a exacerbação da ditadura, em 1968, e a decretação do AI-5, mergulhou intensamente na luta política clandestina, como militante do PC do B, do qual era dirigente regional. Nessa condição, foi preso em 1971 pelo DOPS de Porto Alegre e pela OBAN de São Paulo, sendo barbaramente torturado nesses locais. Julgado, em 1972, pela Justiça Militar, foi absolvido por maioria de votos e permaneceu em Porto Alegre, exercendo sua atividade de médico, já então professor universitário. Sempre decidiu, negativamente, aos apelos que lhe faziam para que tomasse o caminho do exílio. Depois de 1979, militou no Partido Socialista Brasileiro e, a partir de 1995, juntamente com este Vereador, no Partido dos Trabalhadores.

Iniciou sua carreira acadêmica em 1972 como Professor-Auxiliar, desenvolvendo essa atividade na ex-Faculdade Católica de Medicina, lecionando na disciplina de psiquiatria. Como Professor, participou da criação do Instituto de Psiquiatria, órgão auxiliar da disciplina, que depois se transformou no atual Centro de Estudos José de Barros Falcão, em homenagem a esse saudoso Professor, ex-titular da disciplina, que exerceu forte influência sobre ele e sobre os demais colegas do grupo, por suas qualidades profissionais e humanas, caracterizando-se por sua religiosidade e humanismo. Foi Presidente em diversas gestões do Centro de Estudos, hoje considerado uma fundação de apoio da Faculdade e do Departamento de Psiquiatria, onde vem sendo eleito para a chefia por sucessivos mandatos, participando ativamente de comissões e dos órgãos de direção da Faculdade.

Exerce sua atividade de Psiquiatra em seu consultório como autônomo e como professor junto à Faculdade e no Hospital Psiquiátrico São Pedro, onde se aposentou como funcionário. Atualmente, por eleição, entre os técnicos científicos do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em 1999, participa como membro do Conselho Gestor da instituição, representando os trabalhadores em saúde mental.

Em 1993 participou da Direção do Grupo Hospitalar Conceição, organização composta por quatro hospitais: Hospital Fêmina, Hospital Conceição, Hospital da Criança Conceição e Hospital Cristo Redentor; e de doze postos de medicina comunitária, cujo instituidor dessa referência em saúde neste País é o Dr. Grossmann, também Cidadão de Porto Alegre, e que  participa desta solenidade.

Continua, o Dr. Bruno, participando ativamente das lutas políticas da categoria, junto à Associação Médica do Rio Grande do Sul, instituição na qual já participou como integrante do Conselho de Representantes, e na Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul e Associação Brasileira de Psiquiatria, instituições nas quais tem participado de temas científicos e de representatividade.

É a esse cidadão, é a essa figura humana que sabe ter punhos cerrados, mas que sabe ter ternura, que sabe ser duro e sabe ser amigo, que tem uma velocidade incrível para trabalhar e que sempre tem um sorriso nos lábios, que é amigo de seus amigos, que é uma referência para todos que com ele convivem, que Porto Alegre faz hoje esta homenagem. Melhor homenagem não teria o Dr. Bruno Costa do que a presença de seus familiares, de seus colegas de FEUFRGS, seus colegas professores da universidade, colegas que com ele militaram em tantas atividades. Vejo aqui o Sartori, que há tantos anos acompanha o Bruno, e seus colegas médicos do Hospital Conceição, enfim, os seus amigos de sua vida.

Sinto-me imensamente orgulhoso de ter sido o propositor desta homenagem. E, junto com o Ver. Cláudio Sebenelo, que depois fará a sua intervenção, tivemos uma das oportunidades mais raras, mais singulares, mais importantes de nossas vidas, para mim mais importante do que ter sido Vereador, ou seja, dirigir uma instituição com seis mil funcionários, uma instituição com quatro hospitais, e naquela quadra da nossa vida, naquela quadra deste País, conseguimos reerguer aquela instituição, sob o comando do Ver. Cláudio Sebenelo, que era Superintendente, o Dr. Bruno Costa, como Diretor Técnico, eu era Diretor Administrativo e com a colaboração do Dr. Carlos Grossmann, fazendo com que aquela instituição fosse, por iniciativa do Ministro Jamil Adad, decretada como instituição voltada para ensino, tendo convênio do FIDEPS, o que hoje representa em torno de um milhão de dólares por mês para aquele hospital público, que é fundamento da assistência médica desta Cidade, deste Estado e de toda a Região Sul do Brasil.

Quero, por último, citar aqui a presença, Dr. Bruno, de duas companheiras que juntos, na nossa militância, conhecemos, no Hospital Conceição, e que sempre nos acompanham. Encerro com uma homenagem a elas, as companheiras Eliene e Rosa.

Dr. Bruno, foi uma honra ser o propositor desta homenagem. É uma das maiores honras da minha vida ser seu amigo, ser seu admirador. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Por um lapso nosso, de protocolo, pedimos desculpas e queremos chamar para compor a Mesa o representante do Comando-Geral da Brigada militar, Capitão Victor França Ruas.

Quero, também, aproveitar o momento para dizer que a Dr.ª Circe Petersen, por questões de agenda, deverá se ausentar, pedindo desculpas por sua ausência, a partir deste momento. Obrigado, Dr.ª Circe, pela sua presença aqui.

O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra pelo PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Esta vida, completamente louca, nos arma conjunções astrais que, de repente, superpõem no mesmo espaço físico o Carlos Grossmann, o Juarez Pinheiro, o Bruno Costa e eu. O Juarez, como tudo que faz na vida, esgotou e, falar depois dele é difícil, pelo seu talento, pela completitude da sua personalidade. Então, peço desculpas pelo pequeno discurso que fiz.

Mil vezes eu duvidei de como iria chamar o Bruno. Agora eu achei: queridíssimo amigo Bruno, o homo sedizente da espécie sapiens, em seu desenvolvimento, diferente dos animais, passa em sua evolução a agregar valores concretos e abstratos que enfeitam  sua personalidade, sua vida para sua grandeza. Um desses valores de grande significado para as sociedades é a lealdade. Ser leal não significa apenas conhecer a existência do outro; significa, a partir desse conhecimento,  interagir idéias e afetos engrandecedores, fortalecedores e dignificadores. Quantas vezes se é leal por convicção, por interesse do bem comum, mas também por afetos. Mesmo com a ameaça à sua integridade, à integridade da sua família, mesmo com a sua própria vida em risco, porém as dores inauditas, as desgraças pessoais, o desmoronamento de tudo o que se acredita do nosso edifício amoroso, até aquela rotina gostosa do dia-a-dia bem sucedido, é trocado por uma crença inabalável na humanidade. Ter a humildade de calar indefinidamente, quando a carne se dilacera, quando a dor psicológica infinita poderia ser instantaneamente banida por uma palavra, por uma denúncia e ao não fazê-lo, une-se, neste momento, o estóico ao heróico. É exatamente dessa lealdade incondicional, dessa solidariedade por telepatia na solidão dessa dor infinda, intensa, insuportável, é dessa lealdade que queremos falar a vocês. Quando o calar é sobre-humano, quando o paroxismo da dor se transforma num mero ato de amor, o interminável suplício é oferecido por amizade, por fidelidade a uma causa, por um sentimento inexplicável de lealdade acima da dor. Por que ser leal, quando a ética da guerra é tão expugnável, é tão vulnerável? O que significa ser fiel a uma causa quando o encontro se dá apenas entre um homem contra um sistema?

Nada disso é explicável pelos nossos cânones, pelos nossos padrões.

Naquela noite sem sono de Brasília, quando eu e o Grossman te ouvimos encantados, admirados, queríamos ter uma migalha do teu caráter e oferecê-lo como contribuição, como preito à fraternidade num planeta feito de guerra, de histórias tristes e de desgraças.

Somos médicos, homens públicos e temos em comum o apreço pela democracia, o encanto pelas instituições sociais, o instinto da igualdade, da empatia, da ética.

Mas o que me encanta neste ser humano é o seu heroísmo, não o heroísmo idealizado, mas a humildade de se saber menor no gigantesco dos embates e não abandonar, por um segundo, o compromisso com a humanidade.

E no dia da vitória, no cálice de quem calando não calou, brilha o vinho da lhanura, de um soldado, que depois de cavalgar pelas colinas como vencedor, volta ao mais raso, como o mais anônimo dos mortais, com a naturalidade de um justo.

Qualquer dia desses, nos colarinhos maduros dos velhos botecos, nos empapuçaremos de rir, lembrando os momentos fantásticos, que foram poucos, de pequena duração, mas de uma qualidade e realização que mostram o porquê de hoje receberes esta homenagem.

Só eu sei por que a aurora hoje se fez mais bonita deixando Porto Alegre mais rica e feliz. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Registramos, como extensão da Mesa, as presenças do Sr. Alexandre Costa, filho do homenageado; da Sr.ª Rosângela Costa, filha do homenageado; da Sr.ª Silvana Rossetto, nora do homenageado; de Ana Carolina Rossetto Costa, neta do homenageado, demais familiares e colegas.

O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra e falará em nome do PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores.(Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Meu caro Bruno Mendonça Costa, homenageado desta tarde, eu não assumo à tribuna para fazer um discurso protocolar nesta tarde. Normalmente, aqui na Casa, se é muito protocolar, principalmente nessas ocasiões. São várias personalidades que já foram homenageadas com o Título de Cidadão de Porto Alegre, e a todas procuramos introduzir no nosso Conselho de Cidadãos como personalidades do mais alto quilate, que tenham prestado relevantes serviços à Cidade, que tenham se destacado no seu ramo de atividades. Mas no meu caso e no do Bruno devemo-nos reportar há muitos anos de convivência. O Bruno não é só o profissional dedicado, não é só o médico, não é só o professor: o Bruno para mim é mais o ente político, esta é a sua grande virtude. E por essa virtude pagou, foi muito torturado no tempo da repressão. E está aqui conosco. Essa verticalidade é que caracteriza o cidadão Bruno Costa. Não é capaz de querer se vingar das coisas que passou. Como bons companheiros, crentes de uma mesma crença, nós olhamos para a frente; o que passou para nós é experiência e que, na maioria dos casos, não deve ser repetida.

E o Bruno é dessas pessoas. Por isso, sem querer ser formal, protocolar, o meu discurso deve ser breve, dizendo que Porto Alegre, graças à iniciativa do Ver. Juarez Pinheiro, engrandece-se com a figura do Bruno Costa na constelação dos seus Cidadãos Honorários. Muitos dos porto-alegrenses não são naturais daqui, mas nós adotamos esta terra como se fosse a nossa segunda casa, e passamos a trabalhar, a respeitar e, sobretudo, a amar Porto Alegre como se fora nossa cidade natal. Aqui é que nos realizamos, aqui aprendemos a rir e a chorar; aqui vivemos e aqui pretendemos dar o melhor de nós para aquilo que seja útil para a coletividade. É isso que o Bruno está fazendo, e nós nos sentimos agradecidos por isso. Muito obrigado, Bruno Costa. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Convido o Ver. Juarez Pinheiro, proponente da homenagem, para entregar o Título e a Medalha ao nosso homenageado.

 

(É feita a entrega do Título e da Medalha.) (Palmas.)

 

O Sr. Bruno Costa está com a palavra.

 

O SR. BRUNO MENDONÇA COSTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Meus amigos, eu acho que foi feita uma conspiração para, de certa maneira, desmanchar um pouco essa rocha. Ainda bem que eu trouxe tudo escrito. É uma satisfação para mim, uma imensa alegria receber esta homenagem. Meus queridos companheiros Ver. Juarez Pinheiro, Ver. Cláudio Sebenelo e Ver. Lauro Hagemann que conseguiram me emocionar muito - eu tenho que me segurar, porque continuo prosseguindo nesse meu discurso.

Confesso que eu me sinto orgulhoso, emocionado e enaltecido, nunca pensei merecer uma homenagem tão engrandecedora. Vou levá-la no meu coração como um dos maiores acontecimentos de minha vida.

Ao Ver. Juarez Pinheiro, parlamentar reconhecido por sua combatividade e seu trabalho criativo e eficiente - com certeza, por causa dos seus méritos, será reeleito com grande votação - o meu mais profundo agradecimento. Aos colegas professores, funcionários, alunos da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, do Centro de Estudos José de Barros Falcão, do Hospital Psiquiátrico São Pedro e do Grupo Hospitalar Conceição; aos colegas da Associação Médica do Rio Grande do Sul, da Sociedade de Psiquiatria, do Sindicato Médico, da UNIMED e da UNICRED; aos velhos companheiros das lides político-partidárias que estou vendo daqui; às autoridades presentes, a todos os meus amigos e amigas que estão aqui ou àqueles que já me cumprimentaram ou enviaram mensagens em virtude deste momento de tanta significação para mim, manifesto o meu mais profundo e sentido agradecimento.

O Título que hoje estou recebendo apresenta um inestimável valor por ser outorgado pelo Parlamento de uma grande Capital de nosso País, o qual abriga representantes com pensamentos ricos e diversificados sobre os mais diversos temas, entre os quais os que se referem à ideologia e à política. Cabe, portanto, um agradecimento a todos os Vereadores que, por unanimidade, concordaram com esta homenagem, ainda que tendo muitas divergências no que se refere às minhas idéias e posicionamentos políticos. Eis aí uma bela lição do parlamento.

Esta homenagem me permitiria abordar assuntos de diferentes naturezas, mas prefiro convidar a todos para uma reflexão sobre dois temas que dizem respeito à concepção de cidadania e que apresentam elevada importância social relacionados aos conceitos de liberdade e de democracia.

É sabido que nenhum cidadão sozinho, nem mesmo aquele que, aparentemente, pareça ser o mais sábio, conseguirá dizer com plena convicção onde está a verdade mais conveniente para os demais cidadãos. A verdade será sempre relativa em toda e qualquer situação, seja nas investigações e nos fatos científicos, seja no contexto político de um País. Isso nos leva a refletir e desconfiar dos donos da verdade. A humanidade já sofreu muito por atrelar-se fanaticamente a essas pessoas, e muitas tragédias gigantescas já ocorreram, porque o povo aderiu a elas sem realizar uma melhor reflexão sobre suas pregações. A maior delas foi a 2ª Guerra Mundial. Em diferentes graus de dimensões, essas tragédias, produtos da intolerância e do despotismo, continuam a vicejar em muitos países, em diferentes círculos sociais, em partidos políticos, nas famílias e nas relações entre os indivíduos.

Só poderá haver boas reflexões através do diálogo. E o diálogo só poderá acontecer com liberdade e democracia. De quase nada adianta interpretação a posteriori, por mais brilhante que seja, dos motivos que levaram à tragédia. Por isso, é importante o estabelecimento de diálogo intenso, capaz de mostrar o melhor caminho a seguir. (Palmas.)

Portanto, verdade, liberdade e democracia deverão estar permanentemente juntas. Só assim, contingentes cada vez mais amplos da sociedade poderão participar e se capacitar para pensar sobre o que é certo e o que é errado, refletindo sobre temas tão desgastantes, tão desgastados, mas sempre tão atuais, como dignidade, honestidade e solidariedade humana. O exercício permanente do diálogo em uma sociedade livre e democrática sempre nos poderá conduzir para o descobrimento da verdade. Através dele, veremos que as verdades poderão ser falseadas, escondidas ou omitidas durante algum tempo, mas acabarão aparecendo e impondo seu rumo. Se assim acontecer, teremos o prazer de assistir a evolução de uma ética no comportamento humano que nos levará a compreender a necessidade da construção de uma sociedade onde os suportes básicos sejam, por fim, estabelecidos para todas as famílias, e onde os valores ligados à educação e à saúde não sejam plataformas demagógicas ou de interesse pessoal, e sim a prática habitual do dia-a-dia de cada indivíduo.

Não se trata de uma visão utópica. São objetivos perfeita e concretamente realizáveis. Na profundeza dos sentimentos de cada um de nós encontra-se esse desejo, esse valor ético e essa esperança. E nada mais natural do que isso, pois afastado egoísmo que mora dentro de nós surge com força e sentimento, o sentimento de solidariedade, uma conseqüência lógica da vergonha de saber e presenciar que milhares de brasileiros merecem uma vida melhor. Independente de classes, de religiões, de sexo, de ideologias e de pensamento político, estamos todos construindo uma nação, felizmente unida de norte a sul e que desejamos venha a ser exemplo para o mundo e orgulho para nossos filhos e nossos netos.

Acima de nossos partidos, das lutas ideológicas e políticas e dos grandes e pequenos poderes encontra-se um bem maior e mais precioso que se chama vida e ela só existe no contato saudável com a natureza e no viver concreto de cada pessoa. Nossa melhor contribuição é aquela que se volte para que a vida esteja sempre presente em tudo e em todos, a vida humana existe na pólis, graças ao permanente contato de cada um consigo próprio, ao consultar a sua consciência e no contato humano com seu semelhante, portanto, a ética que nos liga à vida está no ápice de nossos princípios morais. Ficamos chocados com os relatos de Frei Bartolome de Las Cazas, nos longínquos anos de 1560, quando denunciava os massacres dos povos indígenas pelos colonizadores espanhóis. Eles matavam os nativos aos milhares, mutilavam e abriam os ventres das mulheres grávidas, submetiam os índios à escravidão, incendiavam e destruíam as suas aldeias. Foram tantos os assassinatos que muitos idiomas desapareceram, porque muitas nações indígenas foram completamente aniquiladas. Lá estava o Frei Bartolome, com sua túnica branca, seu olhar resplandecente e a sua altivez a defender os pobres e miseráveis com sua oratória cáustica e devastadora contra os colonizadores de então. Hoje, os tempos são outros, os pobres e miseráveis se contam aos milhões e os massacres de que são vítimas são feitos de outras maneiras mais modernas e mais sofisticadas. No entanto, continuam a morrer aos milhares, com poucos a denunciarem a culpa dos neo-colonizadores.

Hoje, o instrumento de massacre é o torniquete econômico-financeiro, mais eficaz que torturas, prisões, repressões e exércitos, mais eficiente, porque incompreensível para a maior parte do povo, que já faz muito na sua luta incessante para meramente sobreviver no dia-a-dia. Quinhentos anos se passaram, mas, essencialmente, qual é a diferença daquela época e da época atual? Frei Bartolomé desapareceu, mas deixou suas denúncias e seu espírito de luta. Por isso não morreu, porque não morreram suas idéias generosas, e não destruíram seu sonho de que, ao invés de massacres, os chamados civilizados poderiam ter tido dignidade e terem construído, não um cemitério de índios, mas um paraíso terrestre na América Latina. A ambição pelo ouro dos antigos colonizadores não é diferente da ambição pelo ouro dos neo-colonizadores. Mas, com toda a certeza, um dia a dignidade dos homens será mais forte do que a fortaleza aparentemente invencível dos agentes da destruição.

Quando Makarenko afirma que “a criança nasce para ser feliz”, lança um desafio para todos nós, convocando-nos para um elevado princípio ético: sermos capazes de construir uma sociedade que não só dê a ela o abrigo satisfatório e necessário, mas propicie também as melhores condições para absorver valores materiais, morais e espirituais para um desenvolvimento saudável e harmonioso.

O dia 24 de agosto já estava, indelevelmente, marcado em minha memória pela tragédia do suicídio do Presidente Getúlio Vargas. Esse gaúcho destemido, figura fundamental na história do nosso País, abrigou-nos a refletir sobre dois tipos de Estado, a ditadura e a democracia, aprendendo a repudiar a ditadura. Seu sacrifício representou um gesto final de apoio à democracia, aos valores morais que devem reger uma nação e o respeito que os dirigentes devem ter pelos problemas de seu povo. De fato, como ele mesmo previu em sua carta, seu suicídio não foi em vão, pois o ideal de construir um país não só rico e poderoso economicamente, mas generoso com seu povo, permanece presente no âmago de todos nós.

Embalado pelas idéias sucintas que expus, quero declarar que recebo esta homenagem com muita humildade, compartilhando este ato com todos vocês e com tantos outros que anonimamente constroem a nossa sociedade, que morreram e morrem por ela no dia-a-dia, e que não tiveram a sorte de um momento como este que estou desfrutando. Divido com todos, prazerosamente, esta linda homenagem e agradeço a todos pela presença neste ato. Encerro com uma mensagem de otimismo e de esperança, baseado numa convicção e numa fé inabaláveis, pela confiança que tenho no nosso povo de que ao sacudir nossos sentimentos éticos seremos todos capazes de lutar intensamente pela construção de uma sociedade voltada para a paz, o progresso, a democracia, a liberdade e a solidariedade humana. Muito obrigado, meus amigos. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): O Ver. Juarez Pinheiro convida a todos para, após esta Sessão Solene, apreciarem um pequeno coquetel que será realizado no térreo, descendo as escadas.

Nosso homenageado Bruno Costa, o senhor ouviu, aqui, as palavras de Vereadores representando os partidos políticos, devo dizer que esse é o sentimento e as palavras da Casa, porque essa proposição de homenageá-lo, feita pelo Ver. Juarez Pinheiro, teve o endosso de todos os Vereadores desta Casa.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h28min.)

 

* * * * *